Quem é Abu Mohammed al-Golani, chefe do grupo rebelde sírio HTS
07/12/2024
O sírio lidera seus combatentes em uma longa ofensiva contra o governo de Bashar al-Assad, reacendendo a longa guerra civil do país. Foto sem data divulgada por um grupo militante em 2016 mostra Abu Mohammed al-Golani
Militant UGC via AP/Foto de arquivo
Nos últimos doze anos, o chefe militante sírio Abu Mohammed al-Golani trabalhou para reformular sua imagem pública e a insurgência que comanda, renunciando a laços de longa data com a al-Qaeda e consolidando o poder antes de emergir das sombras.
Agora, al-Golani, 42, busca aproveitar o momento mais uma vez, liderando seus combatentes em uma ofensiva impressionante que colocou sob seu controle a maior cidade da Síria, reacendendo a longa guerra civil do país e levantando novas questões sobre o controle do presidente Bashar al-Assad sobre o poder.
A ofensiva e o papel de al-Golani nesta liderança são evidências de uma transformação notável. O sucesso de al-Golani no campo de batalha é resultado de anos de manobras entre organizações extremistas, enquanto eliminava concorrentes e antigos aliados.
Ao longo do caminho, ele se distanciou da al-Qaeda, aprimorando sua imagem e a do grupo extremista que lidera, o "governo de salvação", em uma tentativa de conquistar governos internacionais e as minorias religiosas e étnicas do país.
Apresentando-se como um defensor do pluralismo e da tolerância, os esforços de reformulação da marca de al-Golani buscaram ampliar o apoio público e a legitimidade de seu grupo.
Ainda assim, fazia anos que as forças da oposição da Síria, baseadas no noroeste do país, não faziam progressos militares substanciais contra Assad. O governo do presidente sírio, com apoio do Irã e da Rússia, manteve o controle de cerca de 70% do país, em um impasse que deixou al-Golani e seu grupo jihadista Organização para a Libertação do Levante (HTS, na sigla local) fora dos holofotes.
Mas a investida dos rebeldes em Aleppo e cidades próximas, ao lado de uma coalizão de grupos armados apoiados pela Turquia, chamada de Exército Nacional Sírio, abalou a tensa trégua na Síria e deixou os vizinhos do país, como Jordânia, Iraque e Líbano, preocupados com o risco do conflito se espalhar.
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Aref Tammawi/AFP
Os primórdios de al-Golani no Iraque
Os laços de al-Golani com a al-Qaeda remontam a 2003, quando ele se juntou a extremistas que combatiam tropas americanas no Iraque. Natural da Síria, ele foi detido várias vezes pelo exército dos EUA, mas permaneceu no Iraque. Durante esse período, a al-Qaeda assumiu grupos de pensamento semelhante e formou o Estado Islâmico do Iraque, liderado por Abu Bakr al-Baghdadi.
Em 2011, uma revolta popular contra Assad da Síria desencadeou uma repressão brutal do governo, levando a uma guerra total. A proeminência de al-Golani cresceu quando al-Baghdadi o enviou à Síria para estabelecer um braço da al-Qaeda chamado Frente Nusra. Os Estados Unidos classificaram o novo grupo como organização terrorista, designação que permanece até hoje, oferecendo uma recompensa de US$ 10 milhões por informações sobre ele.
A Frente Nusra e o conflito sírio
À medida que a guerra civil da Síria se intensificava em 2013, aumentavam também as ambições de al-Golani. Ele desafiou os pedidos de al-Baghdadi para dissolver a Frente Nusra e fundi-la com a operação da al-Qaeda no Iraque, formando o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS).
Mesmo assim, al-Golani declarou lealdade à al-Qaeda, que mais tarde se dissociou do ISIS. A Frente Nusra combateu o ISIS e eliminou grande parte de sua concorrência entre a oposição armada síria a Assad. Em sua primeira entrevista, em 2014, al-Golani manteve o rosto coberto, dizendo a um repórter da Al-Jazeera que rejeitava negociações políticas em Genebra para acabar com o conflito. Ele disse que seu objetivo era ver a Síria governada sob a lei islâmica, deixando claro que não havia espaço para as minorias alauíta, xiita, drusa e cristã do país.
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Consolidando poder e reformulando a marca
Em 2016, al-Golani revelou seu rosto ao público pela primeira vez em um vídeo no qual anunciou que seu grupo passaria a se chamar Jabhat Fateh al-Sham e cortaria seus laços com a al-Qaeda.
“Esta nova organização não tem afiliação com nenhuma entidade externa”, disse ele no vídeo, usando roupas militares e um turbante.
A medida abriu caminho para al-Golani assumir o controle total sobre grupos militantes fragmentados. Um ano depois, sua aliança foi renomeada novamente como HTS, à medida que os grupos se fundiram, consolidando o poder de al-Golani na província de Idlib, no noroeste da Síria.
Posteriormente, o HTS entrou em confronto com militantes islâmicos independentes que se opunham à fusão, fortalecendo ainda mais al-Golani e seu grupo como a principal força no noroeste da Síria, capaz de governar com mão de ferro.
Com seu poder consolidado, al-Golani iniciou uma transformação que poucos poderiam imaginar. Substituindo as roupas militares por camisas e calças, ele começou a defender tolerância religiosa e pluralismo. Ele buscou se aproximar da comunidade drusa em Idlib, anteriormente alvo da Frente Nusra, e visitou as famílias dos curdos mortos por milícias apoiadas pela Turquia.
Em 2021, al-Golani deu sua primeira entrevista a um jornalista americano na PBS. Vestindo um blazer e com o cabelo curto penteado para trás, o agora mais moderado chefe do HTS afirmou que seu grupo não representava nenhuma ameaça ao Ocidente e que as sanções impostas contra ele eram injustas.
“Sim, nós criticamos as políticas ocidentais”, ele disse. “Mas travar uma guerra contra os Estados Unidos ou a Europa a partir da Síria não é verdade. Não dissemos que queríamos lutar.”
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