Presidente da Coreia do Sul perde apoio do próprio partido em processo de impeachment; votação é antecipada
06/12/2024
Líder do Partido do Poder Popular mudou de posição e pediu 'rápida suspensão' de Yoon Suk Yeol, que se isola horas antes da votação. Votação de impedimento ocorre a partir das 5h deste sábado (7), no horário de Brasília. Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, em foto de arquivo
Reuters/Kim Hong-Ji/Pool/File Photo
O líder do partido governista na Coreia do Sul pediu nesta sexta-feira (6) a "rápida suspensão" do presidente Yoon Suk Yeol por sua tentativa de impor a lei marcial e assegurou que sua permanência no poder é um "grande perigo" para o país.
As declarações de Han Dong-hoon, líder do Partido do Poder Popular (PPP), o mesmo de Yoon, deixam o presidente praticamente sozinho horas antes da votação de uma moção de destituição na Assembleia Nacional. O voto do impeachment foi antecipado para as 5h deste sábado, no horário de Brasília --tarde de sábado na Coreia do Sul--, segundo o jornal Dong-A com base em um membro sênior do partido de oposição.
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"Levando em consideração os novos fatos, acho que é necessária uma rápida suspensão de funções do presidente Yoon Suk Yeol para proteger a República da Coreia e sua população", disse Han.
A mudança de posição de Han em relação ao processo de impeachment ocorre após relatos de que Yoon poderia tentar uma nova lei marcial para tentar permanecer no poder, o que deixou partidos sul-coreanos em estado de alerta novamente.
Para Han, Yoon não tomou nenhuma ação contra os oficiais do Exército que "intervieram ilegalmente" nem tampouco reconhece que "sua lei marcial ilegal foi um erro".
"Por isso, se o presidente Yoon continuar no cargo de presidente, há risco significativo de que ações extremas similares à emergência atual se repitam, o que colocaria a República da Coreia e seus cidadãos em grande perigo", afirmou o líder do partido.
O partido governista realizou uma reunião de emergência na manhã desta sexta, pelo horário local, na qual o presidente Yoon não participou. Após a reunião, o líder do PPP também citou "indícios confiáveis" de que Yoon ordenou a prisão de "políticos importantes" durante as horas de vigência da lei.
Algumas horas depois, o Ministério da Defesa da Coreia do Sul anunciou a suspensão de três oficiais de alto escalão do Exército por sua participação na aplicação da efêmera lei marcial. Os três militares punidos são o comandante militar de Seul, o comandante das forças especiais e o comandante de contraespionagem.
Um deputado da oposição, Jo Seung-lae, disse nesta sexta-feira que as imagens das câmeras de segurança mostram que os soldados tentaram deter o líder da oposição Lee Jae-myung, o presidente do Parlamento, Woo Won-shik, e o próprio Han Dong-hoon.
O gabinete da presidência, no entanto, negou que tenha ordenado a detenção de deputados, segundo a agência de notícias Yonhap.
Segunda lei marcial?
Yoon suspendeu a ordem civil na noite de terça-feira e enviou tropas e helicópteros para o Parlamento, onde, em meio a protestos da população, deputados opositores conseguiram entrar para votar contra a lei marcial.
Horas depois, diante da indignação gerada na Coreia do Sul e do espanto de seus aliados internacionais com a surpreendente medida, o presidente recuou e retirou o Exército em um discurso de madrugada.
Acusando Yoon de "violar gravemente a Constituição e a lei", a oposição apresentou a moção de destituição que a Assembleia Nacional votará no sábado às 19H00 (7H00 de Brasília).
A aprovação do processo de impeachment não estava clara porque, embora a oposição tenha 192 dos 300 deputados no Parlamento, precisava de alguns votos do PPP para alcançar a maioria de dois terços necessária, o que, após a mudança de postura do partido, parece algo garantido.
"Parece que Han e os membros do partido concluíram que há uma possibilidade significativa de que o presidente Yoon declare uma segunda lei marcial", afirma à AFP o professor de Ciência Política Shin Yul, da Universidade Myongji.
Diante do cenário, um porta-voz da principal legenda de oposição, o Partido Democrata, disse que todos os seus deputados permanecerão dentro da Assembleia Nacional até que a moção seja votada.
Caso o processo siga adiante, Yoon, um ex-promotor de Justiça que virou presidente em 2022, ficará suspenso de maneira provisória, enquanto aguarda um veredicto da Corte Constitucional.
Uma pesquisa publicada na quinta-feira pelo instituto Realmeter indica que 73,6% dos entrevistados apoiam a destituição. E outro levantamento divulgado nesta sexta-feira aponta que o índice de aprovação do presidente despencou para 13%.
'Insurreição'
O caso está sendo investigado por uma equipe de 120 policiais, que examinam a denúncia de insurreição apresentada pela oposição contra Yoon e outros funcionários de alto escalão.
"Se surgirem evidências durante a investigação sobre os preparativos para uma segunda lei marcial, nós vamos perseguir", disse Kim San-ho, que supervisiona a investigação, à AFP.
A denúncia também envolve o ex-ministro da Defesa Kim Yong-hyun, que renunciou ao cargo na quinta-feira e está proibido de deixar o país.
Esta foi a primeira declaração de lei marcial na Coreia do Sul em mais de 40 anos e provocou recordações dolorosas da ditadura que governou o país até 1987.
O presidente, que enfrenta uma dura oposição parlamentar devido aos orçamentos do próximo ano, justificou a medida pelas "ameaças que representam as forças comunistas da Coreia do Norte" e devido aos "elementos antiestatais que roubam a liberdade e a felicidade do povo".
A oposição diz que Yoon queria "evitar investigações iminentes sobre supostos atos ilegais que envolvem ele e sua família".
Os eventos surpreenderam e provocaram preocupação no principal aliado do país, os Estados Unidos, que mantêm quase 30 mil soldados no país.
Em uma ligação para o ministro sul-coreano das Relações Exteriores, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, celebrou a suspensão da lei marcial e "expressou confiança na resistência democrática do país", informou seu porta-voz Matthew Miller.